Ácaros de sarna em cães e gatos e Malasseziose

Ácaros de sarna em cães e gatos e Malasseziose

Ácaros de sarna em cães e gatos e Malasseziose

As afecções parasitárias correspondem a uma enorme parcela dos problemas dermatológicos na rotina clínica de cães e gatos, sendo que a ocorrência e a distribuição destes agentes podem se diferenciar em razão do clima e características geográficas. Os tratamentos devem estar baseados no diagnóstico etiológico e na utilização de princípios que associam eficácia, facilidade de administração e segurança para os pacientes. Os agentes parasitários mais frequentes no atendimento desses animais são os ácaros: Sarcoptes scabei var. canis, Otodectes cynotis, Demodex canis. Ainda podemos destacar o aparecimento da levedura Malassezia pachydermatis, considerada um agente comensal da pele que, eventualmente, pode apresentar elevação da sua população.

O que é e o que causa a sarna sarcóptica?

A sarna sarcóptica é um ácaro microscópico, de ocorrência frequente em cães e possui característica de ácaro escavador. Portanto, provoca lesões mais agressivas na pele apresentando rápida disseminação. Existe a possibilidade de contaminações cruzadas entre espécies distintas de hospedeiros, porém, nestes casos, ocorrem de forma localizada e autolimitante (HEUKELBACH & FELDMEIER, 2006). 

Os cães apresentam um quadro de dermatite pruriginosa, evoluindo para o aparecimento de lesões eritematosas, crostas, descamações e pápulas, principalmente, em bordos de pavilhões auriculares e articulações. As lesões tendem a iniciar na face, patas e pavilhão auricular externo, mas rapidamente podem evoluir para o corpo todo. A dermatite provocada pela migração intensa do ácaro causa aumento da produção sebácea e, consequentemente, um odor desagradável e um aspecto untuoso na pele (ALMEIDA et. al, 2019).

Frequentemente, o prurido pode provocar o aparecimento de lesões secundárias com a proliferação de bactérias. Após o diagnóstico, deve-se instituir o tratamento com fármacos acaricidas específicos e, sempre que necessário, associar a medicamentos sistêmicos e que tratem a contaminação secundária. Banhos com produtos antissépticos, calmantes e antisseborréicos podem auxiliam na recuperação rápida do paciente, sempre que instituídos de acordo com as manifestações clínicas do animal. A recuperação geralmente é rápida e a melhora clínica é evidente em poucas semanas. Recomenda-se também a limpeza do ambiente onde o animal vive para evitar possíveis recontaminações.

O que é e o que causa a sarna otodécica ou otocaríase?

A sarna otodécica ou otocaríase é provocada pela infestação do pavilhão auricular externo pelo ácaro Otodoctes cynotis, que pode acometer cães e gatos (SOUZA, et al., 2015). Na espécie felina, este ácaro é responsável por pelo menos 50% dos gatos com otite externa (BUCHAIM et al., 2010). Este é um ácaro não escavador, que realiza todo seu ciclo de vida na epiderme do conduto auditivo. O ácaro se alimenta de fluidos teciduais, restos epiteliais e linfa, sendo que essa forma de alimentação provoca intensa irritação do conduto e inflamação. A transmissão ocorre por contato direto ou fômites entre os animais susceptíveis e provoca frequentemente infecções secundárias ocasionando otites bacterianas ou aumento da população da levedura M. pachydermatis.  O tratamento consiste na utilização dos produtos tópicos com ação acaricida e uso de ceruminolíticos para higienização do conduto auditivo. 

Demodiciose ou demodicidose canina: ácaros demais

A demodiciose ou demodicidose canina é a proliferação exacerbada do ácaro Demodex canis na pele de cães. É considerada uma infecção multifatorial, na qual as condições imunológicas, os fatores genéticos e ambientais, além da presença de outros agentes infecciosos e individuais, também contribuem para a proliferação da demodiciose, principalmente, em cães. O ciclo deste ácaro é exclusivamente intradérmico, sendo a sua localização no folículo piloso e glândulas sebáceas, tendo um período de até 35 dias para realizar um ciclo completo (SANTOS; MACHADO, 2009). 

 Em virtude da sua localização muito profunda na derme, a transmissão por contato direta é improvável de acontecer entre os hospedeiros, mas a literatura refere o período de lactação inicial como o momento de transmissão do ácaro entre a fêmea e os filhotes (OLIVEIRA, 2005). Não são referidos em literatura outras formas de transmissão entre animais suscetíveis.  As apresentações clínicas usualmente associadas a proliferação desse ácaro se referem às dimensões das lesões e manifestações frequentes, sendo que podemos dividir em forma localizada, forma generalizada ou ainda pododemodicose (SANTAREM, 2007). 

A forma localizada apresenta alopecia parcial, discreto eritema, não apresenta prurido e é frequente de se manifestar até os 6 meses de vida do animal. Pode ocorrer contaminações secundárias, porém, geralmente, apresentam cura espontânea e sem grandes envolvimentos sistêmicos (NÓBREGA, 2018; SANTAREM, 2007).  Segundo Silva et. al., (2008), a forma generalizada possui um envolvimento sistêmico com agravamento das lesões de pele (GHUBASH, 2006), ampla gama de sinais clínicos associados e possivelmente lesões no corpo todo. Lesões com eritema intenso, alopecia generalizada, descamação, crostas e hiperpigmentação também são observadas. Esta forma de apresentação é um grande desafio para o Médico Veterinário, pois recidivas são frequentes e exigem um comprometimento do tutor para o sucesso do tratamento. Contaminações secundárias bacterianas são usualmente observadas e aumentam o prurido, piorando a condição de pele do animal.  

O tratamento deve ser instituído a fim de reduzir a população dos ácaros na pele dos animais, restabelecer a barreira cutânea e a microbiota normal da pele e deve sempre incluir a redução das fontes de imunossupressão. Produtos acaricidas tópicos e/ou sistêmicos possuem ótimos resultados e devem ser associados com antissépticos tópicos, além do uso de antimicrobianos para o controle das infecções secundárias. 

O que é Malassezia?

Frequentemente observada como agente secundário das infecções por ácaros, a Malassezia pachydermatis é uma levedura comensal da pele dos cães e gatos e presença normal da microbiota destes animais. Sua proliferação, normalmente, está associada a desequilíbrios da microbiota normal, ocorrência de seborreia, disqueratinização e alergias (ROSA et al., 2019). 

As otites são a apresentação clínica mais frequente em cães e gatos associados a esta levedura e potencializam o prurido e as lesões nos animais. Esse agente também é associado à dermatite em cães (NASCENTE et al., 2010), produzindo um exsudato escuro, sendo que o material deve ser enviado para citologia e identificação. O princípio de tratamento deve incluir a redução das leveduras na pele dos animais com o uso de antissépticos e antifúngicos tópicos. 

 

Referências bibliográficas: 

ALMEIDA, L.C; FURTADO, G.D; FARIAS, L.A. Sarna sarcóptica em cães: uma breve revisão. Enviromental SMOKE. v.2, n.2, p.117- 121, 2019. 

BUCHAIM, V. M. R.; LEONARDO, J. M. L. O. Incidência da sarna otodécica em gatos assintomáticos. Iniciação Científica CESUMAR, v. 12, n. 2, p. 161-165, Maringá, jul. /dez, 2010.

HEUKELBACH, J.; FELDMEIER, H. Scabies. The Lancet. Londres, v. 367, p. 1767- 1774, 2006.

GIORDANO, A.  L., APREA, A. N.  Sarna sarcóptica (escabiosis) en  caninos: actualidad de una antigua enfermedad. Analecta Veterinaria,v. 23, n. 1, p.42-46, 2003.

NASCIMENTO, P.D; SANTIN, R.; MEINEREZ, A.R.M; MARTINS, A.A; MEIRELES, M.C.A; MELLO, J.R.B. ESTUDO DA FREQUÊNCIA DE Malassezia pachydermatis EM CÃES COM OTITE EXTERNA NO RIO GRANDE DO SUL. Ci. Anim. Bras., v.11, n.3, p.527-536, 2010.

SANTOS, Luana Maria; MACHADO, Juliane de Abreu Campos. Demodicose canina: revisão de literatura. REVISTA CIENTÍFICA ELETRÔNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA – ISSN: 1679-7353, Ano VII – Número 12 – Garça – SP Janeiro de 2009 – Periódicos Semestral, 2009.

SOUZA, C. P.; SOUZA; M. M. S.; SCOTT, F. B. Perfil clínico e microbiológico de cães com e sem otoacaríase. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, v.67, n.6, p.1563- 1571, 2015.

ROSA, L.D.; GOMES, F.T; BARROS, T.A; CARVALHO, A.V. Presença de Malassezia sp. em cães da Unidade de Controle de Zoonoses de Guaraí (TO) e sua relação com humanos. Health of Humans. v.1, n.1, 2019.

 

O artigo foi escrito pelas responsáveis pelo Psicologia Animal, um instituto voltado para a saúde e o bem-estar de cães e gatos, com foco no comportamento animal. Por meio de cursos online e de suas plataformas digitais, como blog, Instagram e YouTube, o Psicologia Animal disponibiliza conhecimento científico para tutores e profissionais que lidam com pets. Conheça mais aqui

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