Profa. Dra. Ceres Berger Faraco – Especialista em Comportamento Animal
Um desafio para os tutores
Problemas de comportamento em gatos frustram os tutores e podem ter consequências dramáticas como o abandono e a eutanásia nos casos considerados intoleráveis pelo risco iminente ou por impactar negativamente os padrões da vida familiar.
Por outro lado, esses comportamentos refletem as vulnerabilidades emocionais desses animais ao viverem em situação de estresse. O estresse contribui para o aparecimento e a perpetuação de doenças crônicas que comprometem a qualidade de vida do gato e repercutem na dinâmica familiar como um todo.
Em estudo realizado na Austrália com tutores de 1556 gatos, foram identificados os problemas de comportamento para os quais eles procuravam aconselhamento profissional. As queixas principais se referiam a eliminações urinárias inadequadas (71%) e/ ou agressividade, especialmente direcionada para pessoas conhecidas.
Dados coletados no Brasil, com tutores de 926 gatos indicaram como os principais problemas apresentados: o medo de barulhos, o esconder-se de visitas, o arranhar em local inapropriado, eliminação urinária e agressividade entre animais que convivem.
Um problema cada vez mais frequente
Estes quadros tornaram-se mais frequentes, com a tendência de manter os gatos dentro de casas sem enriquecimento ambiental e espaços reduzidos. A consequência foi o aumento dos comportamentos relacionados com frustração, estresse, ansiedade e conflito social.
Múltiplos fatores, incluindo os problemas médicos podem desencadear o início e a manutenção de problemas urinários e a identificação correta deles é necessária para que as orientações sejam mais bem-sucedidas. Também, é relevante destacar a relação existente de queixas sobre problemas urinários com a manifestação de agressividade entre gatos.
Nesses casos, o manejo do ambiente é fundamental. Devem ser recomendadas as quantidades adequadas de recursos essenciais disponibilizados tais como: tigelas para alimento, locais de descanso e bandejas sanitárias que excedam o número de animais residentes para diminuir uma possível tensão social e evitar a dispersão de urina pela casa e agressividade.
Idealmente, os locais com estes recursos devem ter mais do que um ponto de entrada/ saída para impedir que um gato seja encurralado por outro agressor. Em alguns grupos familiares pode ser necessário que o espaço seja utilizado individualmente, permitindo aos gatos que ocupem ambientes separados por alguma parte do dia.
Fornecer locais separados para cada gato pode permitir-lhes criar uma sensação de propriedade e propicia o uso de feromônios naturais para sua delimitação. Isso permite a expressão de comportamento essencial da espécie ao deixar mensagens químicas no ambiente, que outros gatos “leem” da mesma forma que as pessoas obtêm informações lendo um jornal ou livro. O objetivo é influenciar o comportamento de outros gatos. Os espaços separados devem conter tigela de comida, tigela de água, caixa sanitária e locais adequados para descanso e de esconderijo.
Nesse sentido, as propostas para mudanças incluem enriquecimento das rotinas, o fácil acesso a recursos essenciais, feromônios, suplementos dietéticos e interações sociais consistentes e positivas com os tutores. Avaliações médicas para descartar causas orgânicas são indispensáveis.
Atenção com os ‘velhinhos’
Cabe destacar ainda, o grupo de felinos que necessita de muitos cuidados e orientações pelos comportamentalistas, são os gatos mais idosos, que podem apresentar declínios cognitivos, com sinais muito desconfortáveis para o seu bem-estar e para o convívio, como a vocalização excessiva, ciclo de sono-despertar alterado, desorientação, problemas de eliminação urinária, ansiedade, entre outros.
Para os gatos com idade avançada, grupo cada vez mais numeroso, que choram ao despertar desorientados recomenda-se deixar uma luz auxiliar a noite, um rádio ligado com música suave ou com pessoas conversando para ser tranquilizador. Além disso, é indicado reduzir a área de acesso para que o gato não possa perder-se facilmente, o uso de feromônios e almofadas em cama aconchegante com cobertores.
Fica evidente que, as orientações de comportamentalistas auxiliam a promover a compreensão do tutor para estratégias que permitam melhorar a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida dos gatos, bem como prevenir e controlar os problemas mais comuns.
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