Por: Profa. Dra. Ceres Berger Faraco – Especialista em Comportamento Animal
Hoje entendemos bem melhor o papel do cérebro e dos demais mecanismos orgânicos no enfrentamento da vida cotidiana. Também, conhecemos os efeitos de ambientes estressores e como esses afetam o bem-estar, as funções do sistema imune e acarretam uma maior probabilidade de adoecimento. Todos sabemos que, estas situações existem e estão aí desafiando as pessoas e os animais de companhia constantemente na sua tolerância e capacidade de adaptação.
Não há dúvida que, para lidar com essas demandas, os cães e gatos precisam ter os controles mental e corporal íntegros, portanto, o sistema nervoso central funcionante. Por isso, a participação dos médicos veterinários nos casos de animais com manifestação de estresse é indispensável e deve ser encarada como uma prioridade profissional. As exigências mais graves para o equilíbrio orgânico dos animais são as necessidades de respostas constantes numa faixa de máxima intensidade, sendo que os animais podem tolerar esse contexto por tempo limitado. Quando o estressor permanece, o animal já vulnerável pode sofrer danos mentais e físicos permanentes.
O estresse é uma reação emocional que retrata o esgotamento e o insucesso do animal em enfrentar situações que superam seus limites de tolerância e de adaptabilidade.
O que subjaz a essa problemática orgânica, são os inúmeros processos fisiológicos prejudicados pelos efeitos deletérios dessa condição sobre os sistemas endócrino e nervoso, principalmente. Esses são sistemas que regulam a homeostasia corporal, são o gatilho para as respostas aos perigos e, quando estão comprometidos ficam impossibilitados de promover os ajustes mentais (cognitivos, comportamentais) e metabólicos necessários para a recuperação do equilíbrio orgânico.
Quanto ao metabolismo, devido ao estresse ocorre um aumento de secreção dos glicocorticóides, o que estimula a formação de corpos cetônicos, há elevação da pressão arterial e uma maior secreção de ácido clorídrico e pepsina pelo estômago. É um processo que inclui ainda a redução da resposta imunitária e diminuição de basófilos, eosinófilos e linfócitos circulantes, entre outras alterações identificadas.
Já as repercussões sobre o comportamento são mais óbvias porque envolvem diferentes manifestações perceptíveis, tais como: alteração do apetite, diminuição de atividade em geral e do comportamento exploratório, aumento de vocalizações e aparecimento de agressividade.
Fica evidente a necessidade de instituir protocolos para auxiliar nestes casos e reduzir os efeitos danosos metabólicos, os distúrbios de comportamento e permitir um melhor ajuste psicológico. São indispensáveis estratégias multimodais que podem incluir diferentes recursos como o manejo do ambiente físico e social, o enriquecimento ambiental, os psicofármacos e feromônios.
O manejo do ambiente físico e social visa restituir ao animal a percepção de controle e previsibilidade da própria vida. As ferramentas para enriquecimento ambiental contribuem para criar contextos interativos e estimulantes por meio de desafios mentais e físicos.
Já a utilização de feromônios se baseia em conhecimentos adquiridos sobre o seu efeito apaziguador ao serem liberados naturalmente na região mamária das fêmeas após o parto e até o desmame. Por essa ação, é possível que proporcionem tranquilidade aos filhotes mesmo na eventual ausência da figura materna.
Funcionam como um suporte para ajudar na identificação de áreas seguras para explorar à medida que se desenvolvem e se tornam mais independentes. Os feromônios atuam como sinalizadores ambientais para a percepção do contexto como um local seguro.
Esta integração multimodal de estratégias é necessária, uma vez que, as manifestações de estresse nos cães e gatos têm características individuais e estão relacionadas a situações e motivações diversas.
Para ilustrar, é relativamente frequente o antagonismo social, a má relação entre animais que convivem na mesma residência, constituindo um nível continuado e inaceitável de estresse. Algumas vezes, ocorrem comportamentos que levam a restrição de livre acesso para algum dos animais aos recursos chave, tais como: alimentos, água ou áreas sanitárias adequadas. Um potencial agravante são os riscos de lesões devido a conflitos permanentes.
Nesses casos de estresse social, os feromônios acionam uma resposta social específica em outros indivíduos que pertencem à mesma espécie para que a tensão seja reduzida ou extinta.
As provas em apoio ao efeito tranquilizador provocado pelos feromônios canino e felino vêm de dados relativos a resultados como a redução do latido em ambientes de abrigo; redução do medo e ansiedade dos cães e gatos na clínica veterinária, a diminuição de comportamentos relacionados com a separação; a moderação do medo de fogos de artifício, bem como uma melhor socialização entre cães.
Acredita-se que os produtos com feromônios afetam o processamento emocional dos animais que os podem detectar e, podem ser amplamente utilizados como adjuvantes ambientais para intervir em problemas comportamentais associados ao estresse e à percepção do ambiente como um local adverso e estressante.
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Referência: Broom, D. M.; Molento, C. F. M. Bem-estar animal: conceito e questões relacionadas – revisão. Archives of Veterinary Science, Curitiba, v. 9, n. 2, p. 1-11, 2004 Pageat P, Gaultier E. Current research in canine and feline pheromones. Vet Clin N Am. (2003) 33:187–211. Mills DS, Dube MB, Zulch H. Stress and Pheromonatherapy in Small Animal Clinical Behaviour. Chichester: Wiley-Blackwell (2013). Thomson J, Hall S, Mills D. Evaluation of the relationship between cats and dogs living in the same home. J Vet Behav. (2018) 27:35–40. doi: 10.1016/j.jveb.2018.06.043