Profa. Dra. Ceres Berger Faraco – Especialista em Comportamento Animal
Um desafio para os Médicos Veterinários
Os tutores frequentemente relutam em levar o seu gato ao veterinário porque esses reagem com medo aos ambientes desconhecidos e para com pessoas estranhas. São situações bastante desafiadoras para esses animais e incluem toda uma sequência de eventos, como transporte para a clínica, o tempo na sala de espera, a consulta médica e algumas vezes a internação. Cada etapa citada pode ser um gatilho adicional para que ocorra o aumento dos níveis de estresse dos gatos e eles fiquem extremamente temerosos.
Porém, há como melhorar esta experiência, para que seja percebida de forma positiva. É fundamental ter atenção cautelosa aos processos e procedimentos no consultório, pois a satisfação do tutor depende da reação que o gato demonstrar, da estrutura do local e da forma como ele é manejado pela equipe. É crucial que todos os membros da equipe compreendam o papel crítico que o medo desempenha no atendimento veterinário de paciente felino e o como minimizá-lo.
O estresse é uma resposta normal do animal!
O medo intenso ocasiona uma sobrecarga emocional denominada como estresse. Esse é uma resposta adaptativa essencial para que o animal tente obter um feedback favorável diante de estímulos ameaçadores e, para tanto, mobiliza os sistemas metabólicos, endócrinos, hemodinâmicos, comportamentais e imunológicos.
Esse acionamento altera parâmetros biológicos tais como a frequência cardíaca, a frequência respiratória e a pressão sanguínea. Esses indicadores aumentam significativamente, inclusive nos gatos saudáveis quando levados à clínica veterinária.
Portanto, atenuar potenciais vivências estressantes no contexto veterinário e alcançar ambientes toleráveis para o gato e tutor tanto na espera da consulta, quanto na avaliação veterinária é primordial.
Estratégias para redução do estresse
Estratégias com esse objetivo evitam riscos de acidentes com as pessoas e os gatos e contribuem para o sucesso do serviço veterinário oferecido. Causas frequentes de medo estão relacionadas com contenções vigorosas, ruídos altos, cheiros desagradáveis e movimentos repentinos ou bruscos em direção ao gato.
Essas experiencias impactantes no ambiente veterinário começam na área de recepção e podem ser determinantes para o tutor ficar relaxado e o paciente mais cooperativo no consultório ou também o oposto disto. É preciso planejar a reconfiguração dos ambientes destinados aos animais considerando os gatilhos situacionais de estresse ali presentes.
Para isso, há necessidade de controle dos estímulos visuais, olfativos e auditivos. É recomendada a utilização de iluminação suave e difusa como recurso na sala de espera. Este tipo de iluminação evita que o brilho chegue direto aos olhos do animal e das pessoas. Assim, as luminárias devem ser direcionadas para o teto e não para baixo. Já para diminuir a intensidade de sons do ambiente, a orientação é aumentar a difusão e absorção sonora no local, um exemplo são as poltronas com tecido impermeável e com base de espuma (materiais porosos) para não permitir que o som seja rebatido no ambiente. Esse recurso pode ser usado na sala de espera e no consultório. A substituição de aviso sonoro telefônico e da campainha para avisos luminosos, também é recomendada.
Capacitar a equipe é fundamental!
Além disso, a equipe deve estar capacitada para conversar num volume suave e evitar movimentos bruscos. Na sala de espera e no consultório é indicada a aplicação de feromônios para o controle de estímulos olfativos.
No que diz respeito ao manejo, a sugestão é de realizar procedimentos não essenciais em visitas múltiplas e mais breves, sempre que possível. A priorização do atendimento deve levar em conta o nível de dor e a invasividade do procedimento.
Sobre as reações dos pacientes, é sabido que a individualidade tem papel importante. Neste caso, o profissional deve registrar o que funcionou ou não para a redução do estresse em cada consulta. Essa informação será útil para as futuras visitas.
Se recomenda a utilização mínima de contenção física, apenas a que for indispensável para executar com segurança os procedimentos veterinários. Considerar sempre a contenção química como prioritária para evitar mais estresse, medo, riscos e a escalada de comportamentos defensivos/ agressivos que ocorrerão nas próximas visitas.
Fornecer informações para ajudar e educar os tutores sobre simulações que podem ser realizadas nas casas e que preparam os seus animais para os exames físicos e procedimentos veterinários. Estas incluem formas de tornar a caixa de transporte mais atrativa borrifando feromônios e deixando sempre acessível ao gato na casa, utilizar petiscos, mantas com o cheiro do gato para o transporte e uma toalha sobre a caixa para diminuir os estímulos visuais e olfativos.
Com base na nossa compreensão dos gatos, é possível fornecer um ambiente amigável, evitar emoções negativas do paciente e a possibilidade de resultados clínicos enganosos e de recuperação prolongada de doenças. E, os veterinários devem ter isso sempre em mente.
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