Adaptação de cães adotados nos novos lares

Profa. Dra. Ceres Berger Faraco – Especialista em Comportamento Animal

 

A Inclusão de um novo Cão na Família

Trazer um cão para casa é sempre um momento emocionante para as famílias e implica em um período de transição para todos. Alguns cães se adaptam muito rapidamente enquanto outros podem demorar mais tempo. É bom lembrar que, da mesma maneira que a família busca se adaptar as mudanças que o novo cão irá trazer para sua vida, ele tentará fazer o mesmo. É preciso paciência, dar tempo para os ajustes acontecerem e buscar orientação de profissionais dedicados a educação canina para esta etapa ocorrer da forma mais harmoniosa e breve possível.

A adaptação à um novo ambiente social pode representar um desafio complexo para os cães que têm maior dificuldade em lidar com condições desconhecidas. Em geral, os tutores pensam por um longo tempo até decidir pela adoção, porém o cão nada sabe sobre o que vai acontecer com ele. Ele não faz ideia de que essa família desconhecida, esse lar estranho, e expectativas diferentes serão sua nova realidade de vida.

Ele precisará de algum tempo para desenvolver confiança, sentir-se confortável e aprender como funcionar adequadamente.

 

A magia dos três: estratégia para gerar compreensão

Uma sugestão para que o tutor entenda sobre o tempo necessário para a adaptação do cão é utilizar o que se denomina como a “magia do três”. Isto significa que durante os primeiros três dias, os cães estão frequentemente em estado de choque e não mostram muito o que são até que estejam na casa por mais algum tempo. Após as três semanas iniciais, muitos comportam-se como se estivessem habituados a casa, mas na realidade só estarão adaptados a rotina quando tenha passado cerca de três meses.

Assim, mesmo que esteja tudo bem, um novo cão adulto pode demorar algum tempo a sentir-se em casa e agir como tal. Se o cão for adulto e estiver vindo de um abrigo, os níveis de estresse podem ainda ser mais elevados pelas condições anteriores de vida e o cão tende a exibir um comportamento que não reflete necessariamente a sua verdadeira personalidade.

Se deve ressaltar que, a própria adoção, embora benéfica, representa frequentemente um acontecimento estressante para o animal, principalmente quando o cão está emocionalmente comprometido por ter sofrido eventos prejudiciais anteriores e houve uma experiência de estadia prolongada em abrigos que estão superpopulosos e contam com poucos recursos

Prevenção de problemas futuros

Independente das características do cão adotado, o treinamento prioritário deve ser o de identificação e uso do local destinado ao banheiro. As primeiras horas e dias podem fazer toda a diferença entre tudo correr bem ou tudo virar um problema no futuro desta inclusão. É, por este motivo, e por outras demandas que ocorrerão, que o momento ideal para a atuação do comportamentalista é o de acompanhamento na etapa de inclusão em um novo lar.

É relevante destacar a necessidade que este período de adaptação não seja subestimado, pois poderá representar a origem de graves perturbações comportamentais no futuro. Mastigar, escavar ou arranhar objetos são problemas de comportamento comuns nos cães no primeiro mês após a adoção. Neste período, essa destrutividade pode atingir até 25% dos animais adotados e está relacionada, em grande parte, com o estado de ansiedade e estresse do cão com a súbita mudança.

 

Estresse desafia a adaptação

O estresse é definido como um estado em que o equilíbrio orgânico (homeostase) é ameaçado por efeitos negativos intrínsecos ou extrínsecos conhecidos como os fatores determinantes de estresse, que podem ser exemplificados como: as novidades, o estresse social, bem como o ambiente que por ser desconhecido é imprevisível e incontrolável na percepção canina.

Uma complexa gama de respostas fisiológicas e comportamentais adaptativas podem restaurar o equilíbrio orgânico e mental do animal, permitindo sua adaptação ao novo ambiente. Reduzindo algumas respostas para este tipo de situação e que consistem em vigilância e reatividade, ambas são elementos chave de resposta ao estresse.

A ciência desenvolveu técnicas para ajudar a reduzir os níveis de excitação. Uma destas é a estratégia de enriquecimento ambiental sensorial. Ela estimula um ou mais dos sentidos dos cães e pode ser facilmente aplicada em diferentes contextos. Os sentidos auditivo e olfatório são muito sensíveis ao enriquecimento sensorial. Intervenções que utilizam a música e feromônios têm sido objeto de interesse para estes programas multimodais e não invasivos por evidências obtidas ao serem adotadas. Nestes estudos, se percebe que os cães expressam mais comportamentos de relaxamento como o repousar e menos os associados a reatividade como o vocalizar.

Período de orientação – foco dos adestradores considerando que:

Cães são criaturas de hábitos, e ficam mais relaxados quando sabem o que esperar de si e o que se espera deles.

– Manter o cão na mesma dieta durante pelo
menos duas semanas iniciais.
– Reforçar os comportamentos desejados.
– Ser paciente no treino em casa, e tratar o
adulto como trataria um filhote – mantendo sob vigília e com passeios frequentes.
– Ser paciente, caloroso e acolhedor.
– Utilizar enriquecimento auditivo e olfatório.

Um cão ansioso e inseguro num novo ambiente pode levar meses para mostrar confiança e afeto ou nunca alcançar essa condição se não tiver o respectivo cuidado durante sua adaptação.

 

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Fontes:
1. Lord L.K., Reider L., Herron M.H., Kraszak K. Health and behavior
problems in dogs and cat one week and one month after adoption
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2. Luescher A.U., Medlock R.T. The effects of training and
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3. MacConnell, Patricia. Love has no age limit: Increasing the Odds of
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4. Meyers, Harriet. American Kennel Club. Junho 2021. https://
www.akc.org/expert-advice/home-living/how-to-help-an-adult-dogadjust-to-a-new-home/
5. Tod E., Brander D., Waran N. Efficacy of dog appeasing pheromone
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