Redução de estresse durante a hospitalização: relevância e estratégias

Profa. Dra. Ceres Berger Faraco – Especialista em Comportamento Animal

 

O estresse durante a hospitalização

Os cães são animais sociais que têm um forte desejo e necessidade de interagir com o seu grupo social. Porém, no caso de hospitalização eles são retirados do lar e afastados de sua família humana e de outros animais. São levados para um ambiente não familiar e, frequentemente, sofrem algum nível de dor e de medo durante esse período. Toda esta experiência ocorre sem que entendam o que está acontecendo.

Não resta dúvida, de que esse contexto é propício ao aparecimento de estresse e suas alterações características em alguns parâmetros fisiológicos, tais como: frequência cardíaca, frequência respiratória, temperatura corporal e pressão arterial. Além desses, o aumento do número de neutrófilos pode refletir as condições de estresse, embora seja facilmente confundido com uma resposta inflamatória do paciente.

Outro indicador é o nível de cortisol salivar e/ou urinário que pode estar aumentado por correlação com estados de ansiedade. Sendo assim, se a função imunitária ficar prejudicada, há desafios adicionais para a recuperação do paciente.

Considerando o que foi salientado, fica evidente a importância de reconhecer os estados emocionais e comportamentos indicativos de estresse que podem prejudicar o manejo dos pacientes e a eficácia do tratamento.

 

Sintomas apresentados pelos cães

Os cães, quando vivenciam condições de estresse, demonstram seu estado por meio de sinais como a salivação, anorexia, inquietude, tremores, o tentar esconder-se, timidez e agressividade mais intensas e o aumento de frequência da micção e defecação.

Os pacientes que têm por temperamento e condição corporal um excesso de energia podem apresentar sinais de frustração, que se refletem por latidos incessantes, o que perturba o ambiente hospitalar e aumenta o sofrimento dos outros doentes.

Há pacientes que não estão dispostos a se alimentar ou os que mostram dificuldades em manter as eliminações de fezes e urina. Também, em casos extremos, podem se automutilar e retirar bandagens, curativos ou suturas, complicando e prolongando ainda mais o processo de recuperação.

 

Estratégias de controle

A seriedade dos quadros de estresse torna necessária a busca de estratégias para reduzir ou controlar o estresse e suas consequências deletérias para os pacientes hospitalizados. Além dos protocolos terapêuticos individuais recomendados para os diferentes quadros clínicos, algumas outras medidas podem e devem ser implementadas preventivamente. Dentre outras, as opções de enriquecimento ambiental compatíveis com a hospitalização e que proporcionem oportunidades para o animal expressar comportamentos normais são indicadas.

Nesse sentido, objetos que estimulam brincadeiras e promovem distração, rompem com a monotonia do ambiente hospitalar. Algum brinquedo que o cão possa mastigar alivia o estresse, e se deve dar preferência aos objetos conhecidos vindos de sua casa. Se for permitido, devido as questões particulares de saúde do paciente, os brinquedos que contenham guloseimas para serem liberadas por lambedura têm efeito benéfico na redução de estresse.

Cabe destacar que, cada paciente tem temperamento e necessidades únicos, e algumas medidas simples podem encorajar a cooperação e o vínculo com a equipe responsável por seus cuidados. Dedicar alguns minutos para interagir ou acariciar o paciente hospitalizado pode ajudar a aliviar a ansiedade e a fortalecer a confiança dos animais assustados e inseguros.

Os resultados da utilização de técnicas de manipulação suave do paciente, em vez de manipulação mais apressada, resultam em níveis de cortisol mais baixos e comportamento menos ansioso. Evitar também ações que possam ser vistas como de confronto, tais como o contato visual direto ou a aproximação ao paciente a partir de posição elevada (normal para humanos, mas amedrontadora para os pacientes). Em vez disso, agachar-se ao nível do paciente e fornecer alimentos e guloseimas durante o manuseio para aliviar o medo

Áreas que constituem a Medicina Veterinária Integrativa durante a hospitalização podem ser uma ferramenta muito útil para pacientes e para a equipe profissional. Nessa perspectiva, se incorpora tratamentos convencionais com terapias complementares em prol da melhoria de saúde do animal e abreviamento de sua recuperação. Têm sido estudadas nessa esfera, as intervenções por meio de Aromaterapia, Feromonioterapia e a Música.

Sobre a Aromaterapia, a proposta de utilização de óleos essenciais é cada vez mais popular. Sendo, por exemplo, o óleo de valeriana relacionado com benefícios ansiolíticos devido a sua ação sobre o GABA. Esse é um neurotransmissor químico inibitório do sistema nervoso central, responsável por reduzir a atividade dos neurônios e outras regiões do cérebro.

Já os feromônios sintéticos comerciais, são utilizados para simular as ações das substâncias químicas naturais liberadas para influenciar o comportamento e a fisiologia entre os membros da mesma espécie. No caso de hospitalização o objetivo de seu uso é produzir o relaxamento necessário para facilitar a recuperação do paciente.

No que diz respeito a Música, ela foi aplicada a partir do resultado em múltiplos estudos com humanos que demonstraram que seu uso é mediador em estados de ansiedade, provocando redução da frequência cardíaca e da pressão arterial.

Da mesma forma, num estudo em abrigo de cães, os resultados foram promissores. Observouse a redução de latidos, a diminuição de sinais fisiológicos de estresse e o aumento do tempo de descanso dos animais quando expostos à música clássica ambiental. Atualmente, há muitas gravações musicais sendo comercializadas especificamente para animais de estimação.

Portanto, os dados até o momento, justificam a utilização dessas abordagens complementares holísticas em hospitalizações, especialmente em doentes receosos ou ansiosos. Secundariamente, esses pacientes que tiveram ganhos na redução de estresse, também tendem a ser menos receosos durante as visitas subsequentes, tornando os seus cuidados mais eficazes e mais agradáveis para o paciente, o tutor e a equipe veterinária.

 

 

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Fontes: 1. Gosselin KP, Holland B, Mulcahy A, Williamson S, Widacki A. Music for anxiety and performance enhancement in nursing simulation. Clin Simul Nurs, 2016;12(1):16-23. 2. Nicholson SL, Meredith JE. Should stress management be part of the clinical care provided to chronically ill dogs? J Vet Behav. 2015;10(6):489-495. 3. Stephanie Almond (2018) Reducing stress in canine patients whilst hospitalised in a veterinary practice – a review part 1, Veterinary Nursing Journal, 33:2, 49-51.