Por: Profa. Dra. Ceres Berger Faraco – Especialista em Comportamento Animal
Muitos cães são sensíveis aos ruídos altos, há uma prevalência destes casos que varia entre 23% a 49% da população canina. Quando a resposta ao ruído é aversiva, intensa e duradoura, se trata de uma fobia.
Dentre os fatores desencadeantes desse quadro, um gatilho frequente para a reatividade dos cães aos ruídos é a exposição aos fogos de artifício. Essa suscetibilidade tem sido relacionada com algumas raças, indicando influência de fator genético, mas nos animais que se originam de cruzamentos entre raças também aparece como um quadro frequente.
Além disso, é relevante considerar as experiências com as condições ambientais vividas Outro aspecto a ser considerado é a faixa etária, fator de risco comum nos cães fóbicos. Se sabe que os sinais do problema iniciam próximo aos dois anos de idade.
No entanto, há casos de animais com idade avançada (em média 6,5 anos) que apresentam a fobia sem ter história anterior, neste caso pode estar associada com dor.
As reações comportamentais dos cães expostos aos fogos de artifício são conhecidas e incluem tremores, imobilidade, salivação, postura corporal rebaixada, cauda encolhida e tentativa de fuga, dentre outras. Mas, falta conhecimento sobre a fobia provocar alterações prolongadas de comportamento (dias ou semanas).
Existem publicações sobre como tratar as fobias de fogo de artifício em cães, mas uma questão importante para destacar é sobre como evitar que os cães desenvolvam o medo de fogos de artifício. Os profissionais podem intervir com objetivos de: prevenção, manejo ou tratamento.
Prevenção
Exposição precoce à sons. Um estudo indicou que tocar rádio durante o tempo de alimentação em filhotes de Pastor Alemão entre os 16 e 32 dias de idade levou a respostas mais favoráveis à ruídos fortes e repentinos quando testados na idade de sete semanas.
Manejo
Limitar os efeitos de exposição ao ruído antes que ele tenha a oportunidade de se acionar com um barulho, o distraia com brincadeiras de buscar ou de puxar. Pratique alguns truques e/ou habilidades de obediência e dê boas recompensas por se concentrar. Se ele chegar a um ponto em que não consiga focar, pare. Não crie uma associação desagradável com jogos e comportamentos de que ele normalmente gosta.
Recompense o comportamento tranquilo. Não espere que o cão exiba estresse antes de lhe dar atenção. Tocar música calma ou ligar a televisão pode ajudar a abafar os sons externos.
Proporcionar um abrigo seguro para o cão ou melhorar o que ele próprio tenha escolhido. Colocar a cama dentro dele, se possível. Dê um petisco muito especial de longa duração ou um brinquedo oco de borracha para mastigar que possa ser recheado.
Deixe aberta a porta do local escolhido para abrigo porque alguns cães irão ferir-se ao tentar sair. Se o medo do cão for tão grave que ele entre em pânico e tente escapar da casa, há necessidade de tratamento medicamentoso.
Protetores de orelhas feitos para cães podem ser úteis. Apresente-os ao cão gradualmente. Durante os primeiros dias, coloque-os perto da tigela enquanto come. Depois coloque-os soltos à volta do pescoço dele durante alguns minutos, enquanto dá petiscos especiais. Ao longo de vários dias (ou mais, dependendo do cão), passe gradualmente a colocá-los sobre as orelhas do cão, durante alguns minutos de cada vez, enquanto lhe dá novamente petiscos especiais.
Qualquer dispositivo calmante, quer seja protetor de ouvidos ou música suave, deve ser usado ocasionalmente em dias sem fogos de artifício. Isto irá ajudá-lo a desenvolver associações positivas com eles.
Tratamento
Técnicas de modificação de comportamento (dessensibilização sistemática e contracondicionamento) em conjunto com feromônios na forma de difusor e spray.
Os difusores devem ser posicionados a um nível e local onde o cão possa chegar perto deles (não atrás de móveis ou acima da altura da cabeça do cão).
Devem ser sempre deixados ligados, inclusive quando não há fogos de artifício para manter o efeito de forma permanente.
O difusor deve estar no local onde o cão descansa voluntariamente, tal como perto da cama e no lugar onde se esconde quando há fogos de artifício.
Considerar a utilização de mais do que um difusor se for necessário.
O spray tem ação mais rápida do que o difusor (quando esse não está permanente no local) e, deve ser colocado no lugar escolhido para abrigo 15 minutos antes do cão ser liberado para permanecer naquele local. Pode ser aplicado em conjunto com o difusor para proporcionar a percepção de ambiente seguro.
Terapia farmacológica a longo prazo para alterar a linha de base das respostas emocionais, a ser definido o protocolo por veterinário.
Usar exposição controlada ao estímulo fóbico em volumes muito baixos para reduzir futuras reações. Se em algum momento ele reagir com isso, reduza o volume a um nível que ele tolera bem e recomece por aí.
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Fontes:
1. American Kennel Club – www.akc.org. Helping Your Dog Cope with
Fear of Loud Noises, 2017.
2. Bowen, J.; Heath, S. Behaviour Problems in Small Animals.Elsevier,
2005.
3. Veterinary Records, October 7, 2017. Fireworks: ready-made top
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